julho 30, 2005

Página 27: Como Anteu

Não me perguntem porquê, nestes dias senti-me um pouco Scarlett O’Hara, em «Gone with the Wind», regressando a Tara.

Tara! Home. I'll go home. (…) After all... tomorrow is another day.

Só nesta raiz, minha Tara, é possível vir sugar a força com que hei-de reerguer-me, como Anteu, esperando que Hércules não se cruze no meu caminho…

julho 27, 2005

Página 26: Mar

Mar. Desci o monte. Fui ver-te. Contemplar o teu bater. Entregar-te um pouco do meu sal. Não foram as tuas pancadas que me fizeram tremer. Vem de dentro o meu mal. Não consigo refreá-lo e nisso se assemelha ao teu batimento, mar. Queria que se fosse e ciclicamente volta, violento, ingovernável!
Fui ver-te. Ao fundo, na linha cinzenta onde para mim acabas, começa a aventura…

M., 26 de Julho de 2005, à noite

julho 24, 2005

Página 25: Retalhos II

«Angustiante aquele filme sem nome que vira sozinha no exílio! Nenhuma prisão pior que a daquele resto de corpo jazente e cérebro tão vivo! A prisão da impossibilidade de um gesto, de um som, do mínimo sinal de vida! Um desafio à ciência que estabelecera como impossível a actividade daquela pequena parte de substância cerebral remanescente… Um desafio ao seu sono daquela noite, que custara a vencer as imaginadas discussões travadas com crentes em Deus. Um filme de quantas realidades? O pior dos horrores. Não, desse não queria ter-se lembrado. Que ideia recordar essa possibilidade de uma angústia maior! O mal dos outros nunca fora consolo. Mas as ideias eram mesmo assim, como as cerejas: num punhado as maduras e as verdes, as doces e as amargas, as boas e as imprestáveis, raramente as mais cobiçadas do cesto».

M., Deambulações entre Quatro Paredes, 2005

julho 18, 2005

Página 24: Força?

Sou fiel às palavras
As primeiras
Quando tudo nelas
É promessa
Queira ou não
Quem as diz
Sou fiel às palavras
À raiz
Que alimenta
A minha força
E quem me queira
Derrubar
Saberá proferir
As derradeiras
Palavras que anulem
As primeiras


M.

julho 14, 2005

Página 23: Amizade

Diferentes, muito diferentes. Desde a base. E uma amizade que dura há vinte anos! Uma amizade feita de convívios e de afastamentos sem crises, sem zanga, só com razões que vêm de fora. Cá dentro eu sou, ela é, seremos sempre as mesmas miúdas aventureiras, o fósforo e a estopa dos pequenos incêndios nocturnos com que desafiávamos o tédio dos serões na cidade pacata.
A história habitual. Vida. Relações. Trabalho. E, ao virar da esquina dos meses, ou mesmo dos anos, o encontro aberto, franco, sem os embaraços do tempo passado! Vale a pena, acho eu. Quem diria?! E, independentes de tudo o que nos rodeia a cada momento, continuamos a cotejar, a respeitar ou a aplaudir as nossas diferenças.

julho 12, 2005

Página 22: Retalhos I


Mick has created a Car-toon Posted by Picasa


- Mas ele, afinal, o que tem, o carro?
- Tem seis anos.
- E…?
- E, está na hora de trocar.
- Porquê? A mim parece-me bom!
- Começa a ficar velho… Já devia ter sido…
- Velho?! Com seis anos?! Tu sabes quantos anos o teu avô teve aquele Fiat?
- Mas agora não dá…
- 25… Não dá porquê? Avariou?
- Não, mas chateia-me ter que andar nas inspecções… e depois, o valor comercial…
- Então e um carro só com seis anos já tem que ir à inspecção?!
- Desde os quatro…
- Valha-me Deus!... É tão confortável! Eu gosto dele!
- Pois, mas qualquer dia não consigo vendê-lo…
- Mas os novos devem custar um dinheirão, não? Faço ideia…
- Caríssimos.
- Mas este não te serve para o que tu queres?
- É… Vai servindo…
- Então não te percebo!...
- Nem eu!...

julho 09, 2005

Página 21: Momento

Autor: Paulo de Viveiros Cardozo Posted by Picasa


O teu olhar de urgência pousou sobre o meu decote e expôs-me, tão indefesa quanto me querias, ao teu desejo. Invasor, cheio de promessa, olhar que põe a nu e em espera, no fogo lento que há-de ser labareda… Sem um gesto.

julho 08, 2005

Página 20: Memória

Vinte piscinas com algum esforço. Cá fora os miúdos das férias desportivas, uma espécie de prolongamento do A.T.L. para mais uns dias de descanso dos papás.
Recuei muitos anos. Férias desportivas, sem esse nome e sem as mesmas motivações de agora. Cenário: piscina das Pedras Salgadas. Foi lá que aprendi a nadar, num Julho que lá vai… Havia um Paulo Sérgio, um pouco bruto, mas ás da natação desde o primeiro dia; e o “Acacinho não vás ao fundo”. Alguém me disse que se fez dentista, será? O Luís era o craque do Xadrez na hora do descanso. Das raparigas não me lembro! Mas recordo o sabor incomparável do pão da merenda.
O programa ocupava só a manhã imensa. Depois, ainda sobrava a tarde igualmente longa. A praia viria em Agosto. E, em Setembro, aldeia, "bendimas". Férias graaaannndes...


Autor: Rafael Ramos Posted by Picasa

Página 19: Quarta-feira

Quarta-feira é, aparentemente, o dia forte das visitas ao meu blogue. Convosco também acontece?
Por certo haverá um comentador capaz de comentar isto. Se fosse na Sic tinhamos o 'sempre a postos' Nuno R.
Aqui, alguém aventura uma explicação?!
(Tudo culpa do site meter que resolvi adicionar ao espaço... As inquietações que um cidadão arranja!!)

julho 05, 2005

Página 18: Murmúrio


� Autor: cochofel Posted by Picasa


Abafo o grito.
Engulo a ânsia.
Disfarço a dor
Num sorriso.
Aguento a gargalhada
Na noite.
Tudo se queda!
Tudo se queda
Enquanto fervo,
Sem saber
Até quando
A minha água…

julho 04, 2005

Página 17: Filhos

Chegou e transformou-me a vida. Era pequenino, frágil e encheu-me os dias por completo. Desde o primeiro momento que lhe dei o melhor de mim. Através do cordão calafetado das minhas palavras, das minhas cantigas, dos meus gestos úteis, dos meus afagos, das minhas atenções, dos meus exemplos, continuei a verter no seu corpo e no seu entendimento o que de bom fui capaz.
Agora, inquietos, vivemos a adolescência: eu, inquieta por ele; ele, inquieto por tudo. De repente chegáramos lá, depressa e sem aviso! Não sei já o que faça dos meus conselhos inúteis, dos meus carinhos indesejados, das minhas atenções excessivas…Tenho que aprender a deixar comigo o melhor de mim. Afinal, a adolescência vive-se duas vezes!

julho 02, 2005

Página 16: Dança

Vem dançar!
Respirar o ritmo,
Rodopiar na alegria,
Suar as coisas tristes.
Vem saltar
Na sensação nova.
Vem beber a melodia,
Esquecer o dia
No frenesim da batida.
Vem desenhar figuras
Com linhas de movimento.
Vem dizer com o corpo
Que és belo,
Que me queres!

M.


Autor: Guilherme Loureiro Posted by Picasa